ATENÇÃO

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"É isso: tudo está ao alcance do homem e tudo lhe escapa, em virtude de sua covardia... Já virou até axioma. Coisa curiosa a observar-se: que é que os homens temem, acima de tudo? 'O que for capaz de mudar-lhe os hábitos': eis o que mais apavora..."

Dostoiévski

sábado, 4 de abril de 2009

Nas entrelinhas
(Paula Chagas)

Muitos acham que sou louco, mas a verdade é que os livros são, para mim, como pessoas. Alguns são enfadonhos; outros, apaixonantes. Mas todos têm algo a dizer.
Alguns deles têm mais a dizer do que aparentam. Estão impregnados de sua própria história. Seja num rasgo, numa data escrita à mão na primeira página, ou num trecho sublinhado, eles trazem marcas. É por isso que sempre fui apaixonado por sebos. São lugares mágicos que trazem, não só cultura e lazer, mas vida. Vidas que antes tiveram o prazer de manusear o mesmo livro a que hoje tenho acesso.
Sempre tive a mania de observar certos detalhes nos livros antes de comprá-los. Os meus preferidos são os com assinaturas, datas ou dedicatórias. Essas, então, me levam para longe. É como uma história paralela à do livro. Certa vez, no sebo de costume, encontrei algo que me chamou a atenção. Tratava-se de uma edição antiga de Love Story, de Eric Segal. Já havia lido esse livro e tinha, inclusive, uma outra edição dele em casa, mas um pequeno detalhe me fez levar aquele exemplar comigo. Uma dedicatória. Dizia o seguinte:
“ Joana: Sei que de nada adianta pedir que releve os meus erros, mas ainda a amo. A história desse livro me fez lembrar de nós dois. Você vai achar estranho quando chegar ao final. E estará certa, pois nenhum de nós morreu, aparentemente. Mas é através desse livro que venho lhe comunicar minha morte, pois fui eu quem morreu nessa história. Morri no dia em que você me deixou e continuarei morrendo a cada dia, até que a verdadeira morte me assalte. Seu amor era o que me mantinha vivo e, sem ele, sou apenas um pobre defunto abandonado.”
“Espero que se lembre de mim toda vez que vir este livro e que chore a minha morte quando puder.” Lucas.
Não preciso nem dizer o quanto fiquei aturdido com aquela declaração. Aquilo tomou conta de minha alma. Não se passava um só dia em que eu não pensasse nesse casal.
Eu precisava conhecer a história deles, mas não tinha meios. Foi por isso que comecei a inventar. Desenvolvi a imagem dos dois na minha mente, imaginei como se conheceram, o que viveram juntos, por que se separaram e o que aconteceu a eles depois daquela dedicatória. Imaginei a feição de Joana ao ler aquelas palavras, uma mistura de amor e mágoa. Tentei criar um final feliz, mas não consegui. Eles não podiam ficar juntos; ele já estava morto desde o dia da separação.
Tudo foi fluindo de uma forma mágica. Senti necessidade de registrar minhas “descobertas”. Criei um diário fictício para Joana, onde ela teria escrito toda a história, mas não deu certo. Eu queria mostrar a reação dela, vista por alguém de fora; vista por mim. Passei adiante o amor dos dois. Quando percebi, tinha escrito um livro.















Um comentário:

  1. Só para constar, esse texto ganhou o prêmio do 1º concurso literário da livraria Canto do Livro, em Maricá.

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